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Câncer de cabeça e pescoço é o segundo mais frequente no Brasil e deve acometer até 45 mil pessoas em 2020

No Dia Mundial de Conscientização, Hospital Moinhos de Vento alerta para lesões persistentes neste local, que podem ser sintoma de câncer
27/07/2020 Critério / Resultado em Opinião Pública – Foto: Divulgação
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Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço mostram que o câncer nessa região é o segundo com maior frequência no Brasil, atrás apenas dos tumores na mama para as mulheres e na próstata para os homens. A estimativa é de que, neste ano, entre 35 e 45 mil brasileiros descubram que têm a doença. Isso sem considerar os tumores de pele que atingem áreas da face, couro cabeludo e pescoço.

O Dia Mundial de Conscientização e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço, 27 de julho, tem o objetivo de alertar para os tumores numa região nobre do corpo. Os órgãos e tecidos desta área possuem diversas funções vitais e sociais, como a alimentação, a respiração, a fala, a audição, a visão e o controle metabólico, sem contar a identidade visual. A data destaca a importância do diagnóstico precoce para ampliar as chances de tratamento e cura, com mínimas sequelas funcionais e estéticas.

O cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital Moinhos de Vento, Daniel Sperb, alerta que qualquer sintoma, ferida ou nódulo na região da cabeça e pescoço que não melhore em 15 dias deve ser avaliado. “O mais importante passo para diagnóstico e tratamento correto é o exame clínico por um especialista o mais rápido possível. Exames complementares de imagem, laboratório e anátomo patológico são realizados conforme cada situação. Quanto antes começar a tratar, melhores os resultados”, explica.

Os tipos

Entre os tipos de tumores de cabeça e pescoço estão os de lábio e pele (geralmente pela exposição solar excessiva), de tireóide (um dos que mais cresce no mundo), das glândulas salivares e no sistema linfático.

Os mais comuns são de boca, da faringe e da laringe, relacionados com o tabagismo, excesso de consumo de bebida alcoólica, má higiene oral e, mais recentemente, com o vírus HPV (papilomavírus humano).

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil deve registrar mais de 15 mil novos casos de câncer bucal em 2020 – cerca de 11 mil em homens e quatro mil em mulheres. O número de mortes pela doença no período poderá chegar a cinco mil.

Pesquisa inédita

Pesquisadores do Hospital Moinhos de Vento descobriram que a prevalência de lesões orais persistentes é 76% superior entre jovens e adolescentes que tiveram dois ou mais parceiros sexuais no passado.

Aqueles que relataram não usar preservativo em relações sexuais têm 68% mais chance de ter essas lesões que não cicatrizam após 15 dias e que podem ser sintoma de câncer de boca. Os números foram colhidos em um estudo que entrevistou mais de 7 mil pessoas em todas as capitais brasileiras.

O levantamento – que investigou se essas lesões estão associadas a comportamentos sexuais e à presença de doenças sexualmente transmissíveis – utilizou os dados do projeto POP-Brasil, desenvolvido por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS).

As análises também concluíram que pessoas com HIV, sífilis, papilomavírus humano (HPV) ou alguma infecção sexualmente transmissível autorreferida apresentaram prevalência 140% maior em lesões orais persistentes.

Pesquisadora da instituição e coordenadora do estudo, Eliana Wendland, explica que não é possível conectar diretamente as lesões bucais ao HPV, pois não passaram por biópsia. “O estudo mostrou a relação entre padrões de comportamento sexual e as lesões de boca.

Quem já se relacionou com duas ou mais pessoas ou não usa preservativo tem maiores chances de ter as lesões persistentes, evidenciando a importância da camisinha como estratégia de prevenção primária desses agravos”, esclarece a médica epidemiologista.

O estudo foi desenvolvido entre 2015 e 2017, englobando todas as capitais brasileiras e o Distrito Federal, com coleta de dados realizada em 119 Unidades Básicas de Saúde. Os participantes têm entre 16 e 25 anos e não foram vacinados contra o HPV. Nos Estados Unidos, já existe a indicação de ampliação da idade para vacinação até os 45 anos.

Cuidados e tratamento

Com alguns cuidados, é possível prevenir o aparecimento das lesões e tumores. Os principais são manter uma boa higiene bucal, não fumar, não consumir bebida alcoólica em excesso, utilizar protetor solar labial durante a exposição ao sol e usar preservativo.

De acordo com o especialista, também não se deve usar pomadas ou medicações sem orientação médica. “Muitos pacientes buscam atendimento com tumores extremamente agravados por usarem, durante longo tempo, pomadas à base de corticóide sobre as lesões”, pontua Daniel Sperb.

Os tratamentos devem ser realizados por equipe multidisciplinar, que pode ser composta por cirurgião de cabeça e pescoço, oncologista clínico, patologista, endocrinologista, radiologista, radioterapeuta, dentista, enfermeiro especializado, fonoaudiólogo, nutricionista, fisioterapeuta, psicólogo, psiquiatra e cirurgiões plásticos. O paciente pode necessitar de cirurgia, quimioterapia ou radioterapia – ou até as três modalidades. Alguns desses especialistas ajudam também a prevenir ou tratar sequelas advindas do tumor e do seu tratamento.

Entre as novidades estão a evolução das cirurgias endoscópicas e robóticas, permitindo a realização de procedimentos menos invasivos e com menos sequelas. Os aparelhos de radioterapia também estão cada vez mais precisos e permitem focar melhor a radiação nas áreas de tumor, sem atingir órgãos e tecidos saudáveis.

Tratamentos imunoterápicos são outro avanço. “Estamos apenas iniciando a era da imunoterapia e já podemos ver que esses medicamentos ampliarão completamente o entendimento do câncer, trazendo múltiplos benefícios para os pacientes”, conclui o cirurgião.

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