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Pela primeira vez, produto desenvolvido em pesquisa da UFPel chega ao mercado consumidor

Será lançado, durante cerimônia no Pelotas Parque Tecnológico, o suplemento alimentar CALUP, voltado para vacas leiteiras
08/07/2021 Comunicação Social | Universidade Federal de Pelotas – Foto: Divulgação

Nesta quinta-feira, dia 8 de julho de 2021, será lançado, durante cerimônia no Pelotas Parque Tecnológico, o suplemento alimentar CALUP, voltado para vacas leiteiras. O evento poderia ser mais um lançamento do mercado do agronegócio; no entanto, este é um marco para a Universidade Federal de Pelotas: pela primeira vez, um produto desenvolvido no contexto de um projeto de pesquisa da Universidade chega às prateleiras para o consumidor, após ser patenteado e licenciado por meio de parceria entre uma empresa e a Universidade.

Desenvolvido pela empresa Ignis Animal Science, incubada na Incubadora de Base Tecnológica Conectar, da UFPel, o suplemento busca solucionar a hipocalcemia, deficiência em cálcio encontrada em vacas leiteiras no período de vida em que estão em lactação.

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Segundo a sócia da Ignis, Josiane Feijó, muitas vezes essa hipocalcemia é subclínica, pois não apresenta os sintomas de uma síndrome mais aguda; no entanto, tal condição atinge cerca de 50% do rebanho justamente no momento em que estão na produção leiteira: como o cálcio é direcionado para o leite, a mãe acaba tendo seu nível reduzido.

Josiane é farmacêutica e bioquímica e cursou toda a sua pós-graduação na Universidade Federal de Pelotas: primeiro, seu mestrado no programa de pós-graduação em Química; depois, o doutorado no PPG em Veterinária. Foi no último em que começou a estudar o ciclo de metabolismo do cálcio no rebanho leiteiro, junto ao Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Pecuária (Nupeec). “Não estávamos esperando resultados inovadores; tínhamos apenas a teoria”, relembra. No entanto, ao vislumbrar uma possibilidade de um produto promissor, foram iniciados os primeiros testes.

Iniciados pelos testes de laboratório, depois pelos testes pilotos, foi-se comprovando a qualidade e a eficiência do novo suplemento. O ingrediente-chave é o Ignis Active, composto patenteado e de cujo desenvolvimento participaram pesquisadores tanto da empresa incubada quanto do Nupeec, que trabalha há mais de 20 anos com pesquisas e inovação na área de nutrição, clínica e reprodução de bovinos.

Após os primeiros resultados promissores, as premissas foram comprovadas em testes de maior escala em animais da Granja Quatro Irmãos, parceira de longa data do núcleo: após a aplicação de uma dose do suplemento, os níveis de cálcio já sobem de forma imediata, até 30 minutos depois. Além disso, foi observado um aumento de produção no leite: foram três litros a mais por dia, em 220 dias, período que geralmente dura a lactação das vacas.

Tais dados foram levados para diversas feiras do agronegócio, e nesses ambientes foram formadas algumas parcerias fundamentais para que o produto pudesse chegar ao mercado consumidor: uma fábrica de nutrição animal de Erechim (RS), que realizará a produção final, a partir do composto desenvolvido pela Ignis, e a distribuidora Resolpec, de Antônio Prado (RS), que fará a intermediação comercial. “Ter parceiros-chave é fundamental para que tudo aconteça”, pontua Josiane.

Um dos diferenciais do CALUP em relação à concorrência é que o suplemento já efetivo em aplicação única, realizada logo após a primeira ordenha. Uma segunda dose pode ser oferecida, para que haja um possível crescimento na produção leiteira. Já o produto concorrente mais próximo necessita a aplicação de quatro doses em dois dias, sendo que uma delas deve ocorrer 12 horas antes do parto, algo difícil de prever. Além disso, o produto desenvolvido na pesquisa da UFPel tem resultados comprovados em artigos científicos.

Tecnologia da academia à sociedade

Segundo o superintendente de Inovação e Desenvolvimento Interinstitucional, Vinícius Campos, a chegada do CALUP ao mercado consolida a capacidade da universidade no desenvolvimento de tecnologias que possam chegar aos cidadãos. “Este tipo de atividade precisa ser cada vez mais incentivado, pois é a forma como o conhecimento e a pesquisa podem gerar desenvolvimento, emprego e renda para a sociedade brasileira”, afirma.

A venda de produtos criados por meio de pesquisas da Universidade, como o suplemento a ser lançado nesta quinta-feira, também será uma forma de financiar iniciativas de inovação e desenvolvimento: de acordo com a Política de Inovação da UFPel, um terço dos royalties recebidos são destinados aos pesquisadores aos quais pertence a patente, um terço para a Superintendência de Inovação e outro terço para a unidade acadêmica à qual o projeto é vinculado. “É um valor que será reinvestido internamente”, explica Campos.

Um dos fatores que acelerou o lançamento comercial do CALUP é o fato de ser um produto de uma empresa incubada na Conectar, uma prioridade eleita também pela Política de Inovação. Outra via possível é a oferta de uma transferência de tecnologia por parte da UFPel, modalidade pela qual já ocorreu o licenciamento de um produto gerado por um projeto de pesquisa, mas que ainda não foi lançado comercialmente.

O coordenador da Incubadora de Base Tecnológica Conectar, Felipe Marques, também comemora o feito: “Vivemos um momento ímpar em nosso ecossistema de inovação”. Em sua opinião, esse tipo de desenvolvimento só é possível com investimento a longo prazo em ciência e tecnologia, associado a ambientes de inovação, como a Conectar.

O coordenador do Núcleo de Pesquisa, Extensão e Ensino em Pecuária (Nupeec), Márcio Nunes Corrêa, explica que o lançamento é fruto de uma opção do grupo em realizar pesquisas voltadas também para o desenvolvimento de produtos, aproveitando uma mudança na legislação, que propiciou o estímulo ao empreendedorismo no ambiente acadêmico. “É um marco histórico ver um produto todo desenvolvido dentro da UFPel. Para a gente, que está no dia-a-dia, é uma grande emoção”, comemora.

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Para Josiane, ver o produto chegando ao mercado consumidor, segundo ela, causa até arrepios. Mesmo que já tenha tido a vontade de desistir, o “sangue no olho”, conforme palavras suas, falou mais alto: “Temos que dar um retorno para a sociedade”. Na sua opinião, devolver o financiamento de suas pesquisas, obtido por meio de diversas agências de fomento, como a Fapergs, a Finep e a Capes, em forma de produto é diferente do que apenas em artigos. “A educação para mim é tudo”, completa a sócia da Ignis.

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