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Travessia da balsa na Pacheca, em Camaquã, poderá receber a denominação de "Travessia Giuseppe Garibaldi"

Projeto foi protocolado pelo Ver. Luciano Delfini e será analisado pela CCJ
16/10/2019 Redação Portal de Camaquã – Foto: Luis Fernando Rodrigues

Na segunda-feira, dia 14 de outubro de 2019, durante o expediente da 133ª Sessão Ordinária da Câmara de Vereadores de Camaquã, foi lido o Projeto de Lei Legislativo nº 28 de 2019, de autoria do Ver. Luciano Delfini.

O projeto tem por objetivo denominar a travessia da Balsa, na Localidade da Pacheca, de "Travessia Giuseppe Garibaldi".

Após a leitura, o projeto foi encaminhado para ser analisado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara de Vereadores de Camaquã.

Confira na íntegra a justificativa apresentada no projeto:

O projeto tem por finalidade homenagear os 180 anos da travessia do barco Seival na epopeia de Garibaldi, que partiu em julho de 1839 de Camaquã/RS à Laguna/SC. A ideia é aproveitar essa data histórica e dar uma denominação à travessia da balsa da Pacheca, que foi recentemente reinaugurada com o nome de Coronel Ezequiel Centeno III. Do outro lado na ilha Santo Antônio ficava o estaleiro farroupilha, e Garibaldi cruzou muitas vezes por este local para ir na Estância da Barra (ficcional Casa das Sete Mulheres).

Há exatos 180 anos transcorreu uma das maiores epopeias náuticas, que na história dos conflitos mundiais, em qualquer época, a humanidade jamais ousara sonhar. A homérica travessia do Seival protagonizada pelo condottiere italiano Giuseppe Garibaldi, iniciava em julho de 1839, partindo de Camaquã/RS com destino à Laguna/SC. O episódio foi sem sombra de dúvida o capítulo mais contundente e emocionante no cenário da Revolução Farroupilha.

O marinheiro, de 31 anos de idade, perseguido na Itália, depois de passar pelo Rio de Janeiro e o Uruguai chega a Piratini, onde recebe a incumbência de montar um estaleiro na foz do rio Camaquã, localidade da Charqueada, que existe até hoje, e encontra-se no atual distrito da Pacheca.

Na primeira capital farroupilha, ele se encontrou com o ministro Domingos José de Almeida, um importante líder farroupilha, que comandava os custos operacionais da revolução, lembrando que nesta época o general Bento Gonçalves encontrava-se preso. Garibaldi acompanhado por italianos, uruguaios e escravos libertos aportou nas ilhas do Camaquã em 1838, e no ano seguinte realizava seu maior feito na América do Sul.

Às margens do rio Camaquã, na Estância da Barra, propriedade de Antônia Joaquina da Silva, irmã do Gal. Bento Gonçalves (local que inspirou a ficção “A casa das Sete Mulheres”), Garibaldi erigiu o estaleiro da República Rio-Grandense.

A outra residência que o acolheu também estava localizada na chamada Sesmaria do Brejo, propriedade da filha de Antônia - Anna Ventura da Silva, esposa do juiz farroupilha Manoel da Silva Pacheco, que mais tarde passaria a ser conhecida como Dona Pacheca, daí o nome do distrito - a grande referência geográfica e histórica de Camaquã Terra Farroupilha.
 
Foi neste ambiente de hospitalidade, nas casas de mãe e filha, que o condottiere italiano conheceu Manoela, a protegida de Bento Gonçalves. Enamorados à primeira vista, o romance não prosperou pois a família não aceitou o namoro, tendo inclusive criado um álibi de que a jovem donzela de olhos azuis estava prometida para Joaquim, filho do general. Manoela jamais se casou e faleceu em Pelotas, em 1903. A manchete nos jornais da época trazia o singelo epitáfio - Morre a noiva de Garibaldi!

Foi ali naquele lugar seguro e acolhedor que o corsário italiano comandou a construção das duas principais embarcações da frota farrapa - o Seival, um lanchão mais leve com 12 metros de comprimento e o Farroupilha com 18 metros, ambos armados com quatro canhões de doze polegadas. O experiente norte-americano John Griggs, apelidado de João Grande, que já estava no local, era responsável pelos trabalhos de carpintaria, e já havia construído dois barcos menores.

O trabalho árduo dependia do improviso e da criatividade. A madeira vinha das matas nativas das ilhas onde o pequeno estaleiro estava instalado. Do outro lado do rio, na estância da Barra, o ferro era forjado e a própria fazenda fornecia a cordoalha de couro trançado e os cabos de sisal necessários para as velas dos barcos. O rio Camaquã com seu curso sinuoso foi um grande aliado dos farroupilhas.

As duas pesadas embarcações - o Seival e o Farroupilha – percorreram a primeira etapa do percurso despistando o inimigo, nas águas da Lagoa dos Patos patrulhadas pela marinha imperial sob o comando do marinheiro inglês John Grenfell. A seguir entre o rio Capivari e a barra do Tramandaí os lanchões foram colocados sobre duas enormes carretas, com rodas de madeira medindo cerca de três metros de diâmetro, puxadas por juntas de bois, e transportadas por terra ao longo de 100km, durante os dias 5 e 14 de julho. E a partir daí os barcos ingressaram no mar singrando o Atlântico rumo à Santa Catarina.

Essa ousada manobra militar proporcionou aos farrapos a conquista de Laguna em 22 de julho de 1839, e no dia 29, a fundação da efêmera República Juliana. Embora o naufrágio do Farroupilha, com a morte de diversos companheiros italianos e gaúchos, Garibaldi teve seu esforço amenizado. Ali Garibaldi encontrou Ana Maria de Jesus Ribeiro, hoje conhecida internacionalmente como Anita Garibaldi.

Naquele mesmo ano, o mercenário Grenfell adentrou as três bocas do rio Camaquã, liderando uma forte armada e centenas de soldados cumprindo a missão de destruir em definitivo o estaleiro e o que restava da frota farrapa. Garibaldi trocava os barcos pelos cavalos, e rumava para o Uruguai cavalgando ao lado de Anita e de seu filho gaúcho recém nascido, Menotti. O “herói de dois mundos” jamais voltaria a pisar em terras camaquenses.

O Seival - nome batizado em alusão à épica vitória obtida pelos farrapos na Batalha do Seival (1836), que ensejou a proclamação da República Rio-Grandense - encerra seus dias de glória apreendido pela marinha imperial, e depois fica abandonado até ser transformado em iate mercante com o nome de “Garrafão”.

Nessa condição navegou ainda muitos anos, acabando encalhado em uma praia de Laguna. Em 1916, quando ia ser restaurado por pesquisadores italianos, foi queimado. No ano de 1945 foi encontrada uma figueira nos restos da quilha do místico Seival. Transplantada para uma praça de Laguna ficou conhecida como a “Árvore de Anita”.

*Em 2019 registra-se os 180 anos deste feito único no mundo - a epopeia dos lanchões farroupilhas. O episódio é descrito na obra “Memórias de Garibaldi” publicada em Paris (1859), pelo famoso escritor Alexandre Dumas, autor do épico “Os três mosqueteiros”.

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