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Depois de cinco anos, Brasil retoma produção de urânio

No país, o minério é usado dentro de usinas nucleares e para a propulsão nuclear de submarinos
04/12/2020 Portal Brasil - Foto: INB

Com a inauguração de uma nova mina, na Bahia, o Brasil retomou, depois de cinco anos, a produção de urânio. O anúncio ocorreu em cerimônia na terça-feira, dia 1º de dezembro de 2020, na Unidade de Concentração de Urânio das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), no município de Caetité, e contou com a presença do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Durante o evento, foi feita uma detonação, simbolizando o início da lavra a céu aberto na Mina do Engenho.

“Trata-se de uma determinação do Presidente Jair Bolsonaro. Uma conquista para a INB e também para o país. Representa um fator importante para a geração de empregos e recursos para a região sudoeste da Bahia”, enfatiza o ministro Bento Albuquerque.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, numa primeira etapa, a nova unidade tem capacidade para produzir 260 toneladas de concentrado de urânio por ano. Mas a expectativa é que, até 2025, esteja produzindo 1.400 toneladas de concentrado de urânio; e, até 2030, 2.400 toneladas anualmente, pois existe o planejamento de entrada de outra mina em operação, em Santa Quitéria, no Ceará.

“Essa retomada é a primeira fase para consolidar a nossa proposta de tornar o Brasil autossuficiente e um exportador de urânio”, acrescenta o ministro de Minas e Energia.

Produção de energia

No Brasil, segundo o assistente para Governança do Setor Nuclear, do Ministério de Minas e Energia, Eduardo Grand Court, o urânio é utilizado, basicamente, para a produção de energia, dentro de usinas nucleares, e para a propulsão nuclear de submarinos. Ele destacou a importância da retomada do urânio para o país.

“Nós temos hoje duas usinas em operação, Angra 1 e Angra 2. A retomada da produção de urânio vai permitir que a INB continue fabricando elemento combustível e garanta que as usinas continuem gerando energia. Nós temos hoje, em Angra 2, uma geração de 1.305 Megawatts; e, em Angra 1, 640 Megawatts. Ou seja, 30% da energia do Rio de Janeiro é fornecida por essas usinas. Então, a importância está, em um dos pontos, na região do Rio de Janeiro ser abastecida; e a outra, na estabilidade do sistema interligado. As usinas em operação garantem também a estabilidade da região Sudeste, que é um centro de carga que distribui para o Brasil todo”, explica Grand Court.

O assistente para Governança do Setor Nuclear também destacou a importância da exploração do minério para gerar emprego e renda. “A gente tem a perspectiva de gerar 1.800 empregos na produção da mina. Então, isso é muito importante também para o desenvolvimento da região”.
Programa Nuclear Brasileiro

Segundo o Ministério de Minas e Energia, o Governo Federal quer retomar o Programa Nuclear Brasileiro, que prevê, entre outras ações, o estudo de mapeamento de novas jazidas no país. Atualmente, o Brasil ocupa a nona colocação de reserva de urânio no mundo.

“Na década de 70, o Brasil mapeou só 30% do território. E, apesar de ter mapeado só 30%, somos a nona reserva. Então, se a gente retomar esse estudo, que é o planejamento do ministro Bento Albuquerque, a gente deve conseguir ter uma capacidade ainda maior de reserva de urânio”, ressalta Grand Court. Essa pesquisa geológica deve começar pelo município de Caetité.

Matriz energética

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, também anunciou que o Governo Federal tem como meta aumentar a participação da energia nuclear em nossa matriz energética e posicionar o Brasil como ator internacional relevante no setor.

“Estamos avançando nos ajustes necessários para atualização do marco legal da atividade nuclear. Muito em breve será criada a autoridade regulatória nuclear. Tal estruturação irá prover melhores condições tanto para o licenciamento e fiscalização como também para pesquisas na área de biociências, medicina nuclear, radiação de alimentos, meio ambiente e outras”, adianta o ministro.
Produção de urânio no Brasil

A produção do urânio no país começou em 1982, com a produção e extração em uma mina em Poços de Caldas, em Minas Gerais. Durou 13 anos, da ordem de 1.200 toneladas, e abasteceu a Usina de Angra 1. A produção foi interrompida porque exauriu a reserva do metal. Ela foi retomada, em 2000, em Caetité, na Bahia. Em 2015, foi novamente paralisada, também porque a reserva se exauriu.

Saiba como o urânio se transforma em um combustível para gerar energia

O urânio é retirado da terra e triturado. Sob ele, então, se joga uma solução ácida, que separa o urânio do minério. Esse processo resulta num líquido chamado de licor de urânio. Depois de filtrado e decantado, esse líquido se transforma em um concentrado, o yellowcake, que é o urânio natural em forma de pasta. Ele é então embalado e segue para outra etapa: a conversão, que transforma esse concentrado no gás hexafluoreto de urânio.

Para que possa gerar energia elétrica, o urânio tem de ser enriquecido, ou seja, concentrado. Isso é feito em diversas cascatas de ultracentrífugas, instaladas na fábrica de enriquecimento de urânio da INB em Rezende, no estado do Rio de Janeiro. Dentro desses equipamentos, o gás hexafluoreto de urânio gira numa velocidade extremamente alta, separando os átomos mais leves dos mais pesados. Isso faz com que a concentração de urânio natural passe de 0,7% para até 3,65%. É esse enriquecimento que permite ao átomo de urânio liberar calor e gerar energia.

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